sas escalas, desde a censura absoluta aos intelectuais, até os
fuzilamentos de opositores, chegando aos campos de concentra-
ção e trabalhos forçados, além do deslocamento físico de popula-
ções inteiras de camponeses que não se adaptaram à coletiviza-
ção forçada imposta pelo regime.
Na disputa geopolítica, que fazia nascer uma nova potência
militar, a segunda vida da Revolução foi-se moldando à antítese
do que foi o seu ideário inicial, terminando por confundir-se com
a lenda, cuja essência custou a ser percebida por parte dos forma-
dores de opinião, no mundo todo. Em virtude da polarização e da
luta ideológica com o capitalismo, inúmeros intelectuais do
Ocidente fecharam os olhos, por exemplo, para as montagens
grosseiras dos processos de Moscou.
Todo o arsenal de contradições entre doutrina e realidade não
a impediu de manter o discurso da solidariedade internacional
aos explorados, com a promessa de uma vida idílica na fase do
comunismo, ou da ajuda aos povos colonizados, mantendo a pola-
rização permanente com as potências capitalistas. Assim, a luta
ideológica criou uma realidade autorreferida, enquanto um
processo brutal de acumulação primitiva, por meio da expropria-
ção quase absoluta do excedente produzido, foi construindo uma
burocracia poderosa, o que não deixava de ser um canal de
promoção para uma elite operária, e de recompensa para as
adesões tardias ao partido.
Em sua fase de consolidação, nos anos 1937/40, o terror se
esmerou com prisões, fuzilamentos e campos de concentração,
que vitimaram milhares de “inimigos fabricados”, entre eles a
grande maioria de membros do próprio Comitê Central Bolchevi-
que, à época da Revolução. Praticamente dois terços dos bolchevi-
ques históricos foram presos e fuzilados como “inimigos do povo”,
em cenários macabros para desmoralizar os “traidores”, com
destaque para as lideranças históricas do Bolchevismo, como
Kamenev, Zinoviev e Bukharin, sem falar no exílio e assassinato
de Leon Trotski, organizador do Exército Vermelho, que garantiu
a manutenção do poder soviético no período da guerra civil.
Muitas análises atribuem a um desvio patológico de Stalin a
transformação da ditadura do proletariado em totalitarismo de
Estado, quando, de fato, a natureza que o regime assumiu já
estava dada na própria doutrina do partido. Estava tanto no Que
Fazer e Estado e Revolução, como na prática política dos primei-
ros momentos do governo. Prática que foi transformando uma
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José Arlindo Soares