Revolução Russa e O capital
José Antonio Segatto 1
H
á um século, em outubro de 1917, o processo revolucioná-
rio desencadeado na Rússia em fevereiro – com o colapso
do império czarista – sofreu drástica inflexão e ganhou
curso imprevisto com o movimento disruptivo sob a direção do
partido bolchevique.
Ainda no calor da hora, um jovem militante socialista italiano,
Antonio Gramsci, escreveu um pequeno e instigante artigo intitu-
lado “A revolução contra O capital”. Segundo o autor, a conquista
do Estado pelos bolcheviques contrariava as diversas tendências
do movimento socialista europeu e também russo (mencheviques
e socialistas revolucionários). O que Gramsci, na verdade, procu-
rava chamar a atenção era para a necessidade de reposição do
protagonismo do sujeito e da iniciativa política, que haviam sido
obscurecidos pelo fato dos partidos socialistas ou socialdemocra-
tas terem se impregnado pelo positivismo e pelo naturalismo.
Isso teria implicado numa compreensão evolutiva e fatalista da
história – o amadurecimento do capitalismo levaria inexoravel-
mente à abertura da transição socialista; ou seja, o desenvolvi-
mento das forças produtivas e das relações sociais de produção
capitalistas, secundado por uma revolução democrático-bur-
guesa, seria o pressuposto básico e necessário para o socialismo.
Concepção essa que – derivada de uma certa leitura da obra
capital de Marx (que, aliás, completava naquele exato momento,
1 Sociólogo. Professor titular de Sociologia da FCL/Unesp.
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