100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 66

nal – é preciso dizer – também fizeram sua parte na luta contra a barbárie . Lamentavelmente , por momentos também mergulharam nela , como no período stalinista .
No fundo , a grande diferença entre a proposta comunista e a capitalista é de natureza antropológica . Ou seja , reside na batalha pela desalienação do homem em todos os planos da sua existência , do econômico ao modo de vida . Uma batalha pela superação daquilo que Marx denominava por " pré-história " do homem . Não basta mudar a sociedade ; é preciso também mudar a própria civilização . A rigor , a Revolução Russa ficará para a História como uma espécie de ala esquerda da sociedade industrial .
A História ensina que , com todas as limitações de uma primeira experiência revolucionária , a luta pela preservação da Revolução e a montagem de um Capitalismo de Estado – a definição é do próprio Lenin , em seus escritos sobre o caráter da Rússia pós-1917 , mais exatamente em seus artigos econômicos – liberaria uma energia extraordinária , como que represada por longos anos na velha Rússia dos czares . É que havia a esperança de uma mudança radical no modo de vida . E , em vários setores do conhecimento e da prática humanas , essa esperança se concretizou . E isso também é inegável , é preciso que se reconheça . Da servidão à industrialização : a Rússia , em pouquíssimas décadas , passou de um país de servos a um país onde os proletários almejavam , pela primeira vez na História , chegar ao poder . Tudo isso não é pouco mesmo .
Os artistas e a arte russa e soviética materializariam esse início de mudança – para melhor , imagino – das fontes da vida no chamado socialismo real . É o que a própria realidade objetiva nos diz . Vejamos a coisa de perto . O cinema documental , com Dziga Vertov à frente , nasceu durante o processo revolucionário russo . Seu belíssimo “ Três cânticos para Lenin ” até hoje emociona as plateias do mundo inteiro , pela força de suas imagens , até por uma certa aspereza que delas emana . Fascinante , realmente . Serguei Eisenstein , pelo lado do cinema ficcional , dirigiu e montou verdadeiras obras-primas , como “ Outubro ”, “ Ivan , o terrível ” e “ Que viva México !” ( este último inacabado . Os soviéticos chegaram então a sondar Glauber Rocha para terminar o filme .). Como esquecer um criador como Eisenstein , se ele já pertence ao patrimônio cultural da humanidade ?
Se caminharmos para o lado das artes plásticas , impossível deixar de mencionar os nomes dos criadores russos Marc Chagall ( que chegou a ser comissário do povo ou ministro no novo governo
64 Ivan Alves Filho