100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 63

Um século russo Ivan Alves Filho 1 O século 20 – um século breve, conforme a definição do historiador marxista britânico Eric Hobsbawm – come- çou e acabou na Rússia. Teve início em 1917, quando os revolucionários bolcheviques liderados por Vladimir Illitch Lenin tomaram de assalto o Palácio de Inverno, num sete de novembro, em São Petersburgo. E terminou com o fim da experiência sovié- tica – iniciada em 1921 –, com a queda de Mikhail Gorbachev, o último secretário-geral do Partido Comunista, em 1991. Muito já se escreveu a propósito do desmoronamento do socia- lismo realmente existente. O sistema teria sido minado por seus próprios desvios burocráticos. Ou sucumbido à poderosa propa- ganda ideológica do inimigo capitalista. Ou, ainda, desdenhado a questão da democracia política. Para outros, a corrida armamen- tista deslanchada pelo campo ocidental, sobretudo pelos norte-a- mericanos, enfraqueceria de maneira irreversível as economias socialistas, (historicamente debilitadas, se comparadas com o desenvolvimento das potências capitalistas, com o ponto de partida delas). Tudo isso é verdade. Mas existe um outro aspecto nunca lembrado nessa questão do desmoronamento da União Soviética: o país não soube – ou não pôde – se dotar de uma base material que possibilitasse sustentar no topo relações de produ- ção de novo tipo, livres de qualquer exploração do homem pelo 1 Jornalista, historiador, autor de mais de uma dezena de importantes livros, o último dos quais é O Homem e o Tapeceiro, editado pela Fundação Astrojildo Pereira 61