100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 55

se diz. Notam-se as deficiências do planejamento centralizado, da falta de concorrência entre empresas e de renovação do maquinário. Gastos excessivos na área militar, investimentos de menos na estru- tura de produção. Diz-se que se fez uma socialização da economia sem fazer a socialização da política: talvez nem isso tenha sido feito. O sistema cava a própria cova, por impasses internos: quem não se renova, morre. Deveria haver mais liberdade para criar empresas mistas e serviços. No mercado, necessidades e bens se encontram e se socializam: como ele ensina o que o povo quer, devia-se aprender a ouvi-lo. Partidos comunistas, como representantes de um socia- lismo real em crise, não têm mais chances. No terceiro mundo, as diferenças sociais extremas levam a sonhar com igualdade. O socia- lismo não foi um aborto da história, embora pareça. Como apache da ciência, saúdo os irmãos: owgh! Todos tiveram de rir com esse final: o dr. Altenberg gostava do papel de bobo da corte, ironizando contradições em geral silencia- das. Não era um risco calculado, na esperança de que não houvesse algum informe secreto. Também não era que o dr. Altenberg contasse com a sua imagem de bobo da corte ou que, devido à idade, supu- sesse que nada mais tinha a perder. Tinha se acostumado a dizer o que pensava, ele considerava urgente radicalizar teses: queria salvar o socialismo através de reformas. Queria ganhar tempo para o socialismo se reencontrar. Quanto menos tempo pressentia haver, maior sua acidez. Ele criticava o socialismo real para preser- var sua utopia humanista. Vendo a seriedade das questões, o professor Ziembinski interveio: − Vou dizer algo que não se costuma dizer entre nós. O marxismo se fez como frente de combate, para defender interes- ses dos trabalhadores, mas ele perde o dente da dialética se fica acomodado no poder. Ser radical, dizia Marx, é examinar as ques- tões pela raiz. Temos de ver os fundamentos, as contradições nos fundamentos. Examinando a história, Marx concluiu que a revolu- ção das relações de produção ocorre sempre que a estrutura delas impossibilita o desenvolvimento das forças de produção. Isso é atribuir à história uma vontade de produtividade crescente. A igualdade é uma necessidade do capital, para que todos possam oferecer o que quiserem e todos possam comprar no mercado o que quiserem e puderem. Valores como igualdade e liberdade são aí vetores necessários para o funcionamento do sistema, assim como a fraternidade serve para controlar a concorrência e a misé- Utopia e realidade no socialismo de Estado 53