100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 53

contrários ao seu povo. A segunda alternativa, o aumento de impos- tos, iria contrariar os interesses da classe média e da burguesia, mas iria reduzir o poder de compra, levar à recessão, o que, aliás, um confisco da economia popular também provocaria. Se eu conheço o Brasil, um aumento de taxas provocaria aumento da sonegação, sem que houvesse um aumento proporcional de receita... Nesse momento, o dr. Altenberg ficou com o olhar parado, um leve sorriso nos lábios, como se estivesse lembrando antigas histó- rias. Ele percorria túneis da memória. Todos ficaram esperando, alguns riram, o homem era conhecido por suas distrações. Ele continuou, no entanto, a falar: – Eu tinha esquecido uma coisa: a privatização de empresas estatais, especialmente das lucrativas, como os partidos de direita vêm propondo há tempos e que os militares, por seu nacionalismo, não fizeram, apesar de terem cedido espaço a empresas estrangei- ras. Isso representaria uma entrada de dinheiro, como quem vende um anel, mas não resolveria nada. A solução estaria em conter as contas e aumentar a produção, contando com taxas cambiais melhores. Mas isso é utopia. O sexagenário passou a mão pelos cabelos grisalhos, deu um suspiro como quem está demasiado cansado com o peso do mundo, olhou para os presentes e continuou: – A terceira alternativa prejudica diretamente os interesses dos funcionários públicos, da pesquisa, da assistência médica, da atividade cultural e assim por diante; indiretamente, prejudica a todos os que poderiam ser beneficiados pela assistência social, pelos resultados da pesquisa, pela ativação do patrimônio cultural e assim por diante. Como essa última alternativa atinge o fator mais fraco e pode beneficiar o capital, inclusive por lançar mais mão de obra barata no mercado, como ela oferece o argumento de que o governo está cortando excessos em benefício do povo, como ela serve para enfraquecer o aparelho de Estado facilitando a imposição dos interesses dos grandes investidores, é provável que seja este o caminho preferencial. Como não há de solucionar a crise, em breve será necessário conjugar elementos das diversas alternativas. Se o Brasil, enquanto maior país da América Latina, não consegue enfrentar os interesses do FMI, não se pode esperar que os países menores possam. Há força militar e policial para controlar qualquer rebelião. Seriam necessários vários anos de superávit nas exportações para pagar a dívida, o que pode ocorrer se houver valorização das commodities. Países pobres não têm Utopia e realidade no socialismo de Estado 51