sintomático da acomodação vigente nos quadros acadêmicos. Os
cursos atuais geram apenas técnicos, diplomados tão depressa
quanto possível, sem proporcionar pensamento crítico mais
amplo. Os centros acadêmicos deixaram de ser locais geradores
de pensamento político. Não se tem um curso que dê formação
humanística, filosófica, política e artística capaz de gerar quadros
de elite para a alta administração do Estado.
A geração que era jovem, na época do golpe de 1964, e enfren-
tou a repressão, está ora se acabando e, com ela, o pendor crítico.
A Ditadura Militar catou as melhores cabeças pensantes da
universidade e cortou. O critério não era ser ou não marxista,
mas ser capaz de pensar e fazer pensar. Os que restaram e subi-
ram, esses geraram quadros acadêmicos acomodados, que
procriaram, por sua vez, uma geração que hoje, com seus trinta
ou quarenta anos, faz uma opção tecnicista, sem formação
humanística e incapaz de pensar criticamente. Wikipédia e
Power Point são ferramentas para ralos dados de informação,
sem que se desenvolva a capacidade de reflexão mais profunda e
acurada. Não se consegue avaliar o quanto a universidade ainda
hoje está prejudicada pelas decapitações feitas pela Ditadura.
Aliás, isso nem interessa.
A quem não interessa? A quem não quer a concretização dos
ideais de igualdade, liberdade e fraternidade, consagrados pela
Revolução Francesa e que Lenin quis que deixassem de ser prin-
cípios jurídicos formais para se tornarem práticas sociais efeti-
vas. O modelo soviético foi apenas um dos caminhos para chegar
a isso. O dramaturgo Heiner Müller, sucessor de Bertolt Brecht,
na Alemanha Oriental, disse uma vez que o capitalismo era liber-
dade sem igualdade e o comunismo era igualdade sem liberdade.
De fato, porém, no capitalismo, a liberdade é proporcional ao
dinheiro que se tem. A fraternidade é o que se esqueceu aí. Esque-
ceu-se também de questionar os fundamentos teológicos desses
princípios, a maneira como devem ser entendidos. Igualdade não
é igualar tudo, nivelando tudo por baixo, e sim distinguir a dife-
rença do desigual. Mesmo que se dessem as mesmas oportunida-
des a todos, nem todos iriam aproveitá-las igualmente, mas isso
não significa que todos não deveriam tê-las.
Marx achava que, desfazendo-se o conflito entre classes,
seria possível aos homens finalmente se tornarem irmãos. Niet-
zsche lembrou, contudo, que os maiores ódios se dão entre
pessoas próximas. A natureza é conflito permanente, em que
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Flávio R. Kothe