100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 42

zas (e um pouco de Gramsci, claro), esta foi (e é) a discussão quanto à sobrevivência do marxismo e do comunismo. Lukács erra ao dizer que não havia um “materialismo dialético” em Marx, porque Engels o propôs, quando Marx recusou para si o epíteto de “marxista” (moi, je ne suis pas marxiste). A categorização deste materialismo por Stalin através de Deborin resultou em críti- cas e mais polêmicas: Marx seria historicista ou não (estrutura- lista)? A resposta de Lukács é por uma ontologia do Ser social, que apresenta uma legitimidade parcial, uma vez que a questão das ideias e da cultura, tão mal compreendida pelo materialismo (em geral, e marxista, em particular), não ficou clara. O marxismo, bem como todo materialismo, precisa entender o significado do transcendente e do idealismo, pois só assim deixará o reducionismo das “condições materiais de existência”, para incluir a existência subjetiva no processo de edificação da socie- dade comunista, coisa que a revolução não fez. É que, nas condi- ções materiais, estão incluídas as ideias, sonhos, necessidades do supérfluo, de arte e cultura, para as quais 1917 não deu resposta. Uma nova sociedade, uma nova época exige uma Paideia e esta moldura foi o que faltou à Revolução Russa, que não deveria ter acontecido, sem ela. Conclusões para o futuro A Paideia, a pedagogia, são tão importantes que até a derrota e o entendimento de sua anatomia ajudam a não cometer os erros do passado, e a não esquecê-los. O elo mais real hoje com a Revolução Russa é a China, cujo feitio moderno foi realizado por um discípulo de 18 anos de Trotsky e que participou das discussões dos anos trinta: Deng Xiao Ping, o mentor do “Massacre da Praça da Paz Celestial”. Ele conseguiu realizar o equilíbrio entre a economia capitalista e a comunista, seguindo um pouco Bukhárin , benefi- ciado pelos descaminhos das experiências comunistas anteriores. Mas o problema persiste: esta proposta, “um país, dois sistemas” será capaz de reimpulsionar o processo de revolução? Acontecerá o vaticínio de Trotsky, no tempo da NEP, de que isto será impedido por classes burguesa e média, inimigas do socialismo? Não será fundamental uma Paideia? Apesar de tudo, dos fracassos e por eles mesmos, a Revolução Russa prossegue, nas ideias. 40 Ernesto Caxeiro