100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 37

stalinistas, é uma renúncia ao programa comunista. Parece- me que você exclui a possibilidade de uma política do Partido Comunista russo que não equivalha à restauração do capita- lismo. Isto equivaleria a dar uma justificativa a Stálin ou a sustentar a política inadmissível de "demitir-se do poder". É necessário, ao contrário, dizer que uma política correta e classista na Rússia teria sido possível sem a série de graves erros de política internacional cometidos por toda a "velha guarda leninista" junta. (grifo meu). Como se vê, havia um claro debate sobre a natureza da Revo- lução e que ela, segundo os fundamentos, estava se esgotando e caminhando para um desvio. Aqui podemos chamar à baila a parte final de Guerra e Paz, de Tolstoi, na qual ele afirma que quando os fatos históricos degrin- golam, por vicio de origem, fica difícil voltar atrás e Adam Schaff, um marxista polonês, aduz a esta constatação que Stalin repre- senta o aspecto trágico da Revolução Russa. A sua decisão de não continuar era difícil, em função do que já ocorrera, inclusive mobilizando partidos comunistas em muitos lugares. Contudo, não foi só Stalin que se iludiu com a URSS, que sucumbiu ao chauvinismo (patrocinado por Stalin); não foi ele que não ouviu os conselhos de Trotsky sobre o problema dos sindica- tos, que estavam sendo transformados em “correias de transmis- são do partido”, mas Lenin. Deutscher cita, no mesmo livro, que quando Trotsky o alertou para este último problema, Lenin, opor- tunísticamente, e revelando não atribuir a isto importância, instou Trotsky a ocupar-se desta questão, num movimento típico de jogar “a batata quente” para quem a esquentou. Mas a identificação entre Partido e Estado foi sim obra de Stalin, que, com o cargo de secretário-geral, dominou todas as esferas do poder. Ainda assim só o fez por causa dos erros dos bolcheviques e de Lenin. Numa perspectiva anacrônica moderna, que deve ser feita, e após tantas transições, tanto do lado da esquerda, países comu- nistas, quanto da direita, países de ditadura militar (América Latina, Grécia), o melhor a fazer era exatamente “demitir-se do poder”, fazer uma transição. Os camponeses, em maioria, vendo o enfraquecimento do partido bolchevique, começaram a atacá-lo, numa atitude que justificou os posteriores excessos de Stalin. Revolução Russa: a distopia 35