100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 35

Revolução Russa: a distopia Narrativa histórico-teórica da Revolução. Até quando a Revolução o foi? Ernesto Caxeiro 1 A narrativa dos acontecimentos da Revolução mostra a distor- ção da utopia. Por ela vemos quais as razões que distorce- ram o ideal da revolução, ou como a utopia se perverteu. A base da discussão para os descaminhos da Revolução Russa já está, de há muito, estabelecida, nas cartas trocadas por Marx e Engels com os narodniks russos (populistas), publicadas no livro de Michel Lowy, As Lutas de Classe na Rússia. A mínima conclusão de que se pode ter desta troca é que não há nenhuma, quer dizer, nenhuma afirmação quanto à sua legitimidade. A dúvida persiste na cabeça dos fundadores do comunismo moderno. Ora Marx diz ser possível ora Engels a condiciona à revolução no Ocidente. Tal discussão era conhecida por Lenin e Trotsky, quando a revolução eclodiu e como nos mostra Luciano Gruppi no livro O Pensamento de Lenin, publicado nos anos 80 do século passado, este último passou-se de “malas e bagagens” para a concepção de revolução permanente de Trotsky, como se esta fosse uma inova- ção em relação ao pensamento de Marx e Engels. Mas a concepção de Trotsky revela, num período em que os escritos de juventude e mesmo as cartas com os narodniks não eram conhecidos bem, o conhecimento mais profundo dos funda- mentos do comunismo de Marx e Engels por parte do compa- nheiro de Lenin. Num livro de 1903, Trotsky disse que o futuro da 1 Professor, advogado formado pela UFRJ e especialista em Filosofia Moderna e Cotemporânea. 33