Revolução Russa: a distopia
Narrativa histórico-teórica da Revolução.
Até quando a Revolução o foi?
Ernesto Caxeiro 1
A
narrativa dos acontecimentos da Revolução mostra a distor-
ção da utopia. Por ela vemos quais as razões que distorce-
ram o ideal da revolução, ou como a utopia se perverteu.
A base da discussão para os descaminhos da Revolução Russa
já está, de há muito, estabelecida, nas cartas trocadas por Marx e
Engels com os narodniks russos (populistas), publicadas no livro
de Michel Lowy, As Lutas de Classe na Rússia. A mínima conclusão
de que se pode ter desta troca é que não há nenhuma, quer dizer,
nenhuma afirmação quanto à sua legitimidade. A dúvida persiste
na cabeça dos fundadores do comunismo moderno. Ora Marx diz
ser possível ora Engels a condiciona à revolução no Ocidente.
Tal discussão era conhecida por Lenin e Trotsky, quando a
revolução eclodiu e como nos mostra Luciano Gruppi no livro
O Pensamento de Lenin, publicado nos anos 80 do século passado,
este último passou-se de “malas e bagagens” para a concepção de
revolução permanente de Trotsky, como se esta fosse uma inova-
ção em relação ao pensamento de Marx e Engels.
Mas a concepção de Trotsky revela, num período em que os
escritos de juventude e mesmo as cartas com os narodniks não
eram conhecidos bem, o conhecimento mais profundo dos funda-
mentos do comunismo de Marx e Engels por parte do compa-
nheiro de Lenin. Num livro de 1903, Trotsky disse que o futuro da
1 Professor, advogado formado pela UFRJ e especialista em Filosofia Moderna e
Cotemporânea.
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