100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 165

O que seguiu é conhecido de todos. Mas, poderia ter sido diferente? Qual teria sido a história da Rússia e do mundo se o Partido Bolchevique, mesmo minoritário, tivesse mantido a Assembleia Constituinte e aceito os resultados dos seus traba- lhos que, muito provavelmente, consolidaria a república demo- crática e avançaria em algumas reformas moderadas? E se o Governo Provisório tivesse se antecipado à insurreição de outu- bro, convocando as eleições para a Constituinte, e aberto as negociações de paz com a Alemanha? Dois grandes líderes mencheviques, Julius Martov e Paul Axel- rod, vinham insistindo, desde abril, para que o Governo Provisório abrisse negociações de paz com as potências ocidentais. Ao contrá- rio disso, em meados de 1917, o primeiro ministro Alexander Kerenski lançou nova ofensiva na frente de combate, aumentando a indignação e provocando insubordinação dos soldados. Com as “jornadas de julho”, espontâneas manifestações contra o Governo Provisório de uma população indignada com a guerra, o desabastecimento e a fome, a situação se agravou dramaticamente. Crise ministerial, desgaste do Governo Provi- sório, tentativa de golpe militar de direita e intensificação dos preparativos da insurreição pelos bolcheviques, acentuam o caos e a desordem política e social. Embora os bolcheviques tenham sido atropelados pela iniciativa dos soldados e operá- rios, o Governo Provisório radicalizou mandando prender os seus principais dirigentes (Trotsky foi preso; Lenin e Kamenev tiveram que fugir para não ser aprisionados). Os bolcheviques sabiam que o futuro da revolução na Rússia dependia dos movimentos socialistas na Europa central e ociden- tal, principalmente na Alemanha, onde o Partido Socialdemocrata tinha grande influência política. Como a Rússia, a Alemanha sofria as consequências nefastas da guerra em duas frentes de combate, grande efervescência política que levou ao fim da monar- quia de Guilherme II e à implantação da República de Weimar. As forças socialistas também se dividiram na Alemanha entre refor- mistas e revolucionários, o Partido Socialdemocrata, por um lado, e a sua fração de esquerda liderada por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht (espartaquistas), por outro. Inspirada na revolução russa de outubro, os espartaquistas realizaram, em novembro de 1918, uma insurreição fracassada, acabando com as esperanças de Lenin e Trotsky de uma revolução na Alemanha para fortalecer o projeto socialista na Rússia. A encruzilhada da revolução 163