100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 163
Os Socialistas Revolucionários, que lideraram o Governo Provi-
sório e a Duma, tinham uma grande base política entre os campo-
neses, enquanto os bolcheviques eram, sobretudo, um partido do
proletariado, classe minoritária e concentrada nas cidades. Com
esta minoria isolada nas cidades, a insurreição de outubro foi
possível apenas pela capacidade de Lenin de mobilizar e atrair a
enorme insatisfação da população e, principalmente, dos Sóviets
dos soldados, complementando a organização dos operários com o
poder militar. Desde sua chegada do exílio, com as suas “Teses de
abril”, Lenin já defendia a tomada do poder pelos Sóviets e a saída
da Rússia da guerra, com o lema “Paz, terra e pão”. Paz era tudo o
que os soldados queriam ouvir depois de quase quatro anos de
guerra, mortes, mutilações e sofrimentos.
A disputa de poder, dos bolcheviques contra mencheviques e
principalmente socialistas revolucionários, refletia também a dife-
rença de percepção da realidade da Rússia e, principalmente, do
seu potencial revolucionário. No entendimento de Lenin, domi-
nante entre os bolcheviques, em determinadas condições históri-
cas (a Rússia em guerra e desestruturada), um partido profissional
e disciplinado poderia tomar o poder e dar um salto histórico para
a construção do socialismo mesmo com operariado claramente
minoritário. A dissolução da Assembleia Constituinte partiu desta
aposta, mesmo rompendo com antigos aliados que discordavam
deste salto e pretendiam começar com a implantação de uma repú-
blica democrática, em conjunto com os liberais e democratas.
Os mencheviques e os socialistas revolucionários achavam, ao
contrário de Lenin, que o capitalismo não estava desenvolvido na
Rússia, de modo a criar as condições para a revolução socialista.
Entendendo que não seria viável o salto de uma sociedade social,
política e economicamente atrasada para o socialismo, os reformis-
tas consideravam historicamente necessária a formação de uma
coalizão com a burguesia e os liberais para consolidar a democra-
cia e implementar as reformas sociais, o que, supunham, evitaria
a guerra civil. Mesmo alguns líderes bolcheviques, entre eles Zino-
viev e Kamenev, duvidavam do salto revolucionário proposto por
Lenin e da emergente revolução proletária na Europa ocidental.
O fato é que, com o desgaste da guerra, a desagregação social
e a desorganização da economia, o Governo Provisório mostrou-se
frágil e incompetente, adiando as grandes decisões, principal-
mente a negociação de um armistício com a Alemanha, desejo da
população sofrida com a violência da guerra e a miséria no campo
A encruzilhada da revolução
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