100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 159
A encruzilhada da revolução
Sérgio C. Buarque 1
N
o rigoroso inverno de Petrogrado, um grupo de soldados
montava guarda no pátio externo do Instituto Smolny.
Circulando em torno de uma pequena fogueira, o cabo
Volódia acendeu um cigarro, apontou para a sala iluminada no
segundo andar do edifício e comentou: “Camaradas, alí está sendo
decidido o futuro da revolução”. Naquela sala estava reunida a
direção do Partido Bolchevique, para avaliar a situação política
criada pela composição da Assembleia Constituinte (AC), eleita
em novembro e empossada no dia anterior.
Victor Chernov, destacado líder do Partido Socialista Revolu-
cionário, fora eleito presidente da AC, refletindo uma aliança
majoritária de socialistas revolucionários e mencheviques. Depois
do sucesso da insurreição de outubro (novembro no calendário
gregoriano), os bolcheviques pareciam atordoados com a derrota
eleitoral que os jogava numa desconfortável minoria na Consti-
tuinte. Nuvens densas acentuavam o frio inverno russo, emoldu-
rando o clima tenso da discussão dos bolcheviques diante de uma
dramática escolha. Todos pareciam perceber que estavam numa
bifurcação da história, num ponto de inflexão que marcaria defi-
nitivamente o futuro da revolução. Combinando o prestígio polí-
tico com a sua força retórica, Leon Trotski foi o primeiro orador a
defender a dissolução imediata do órgão constituinte.
1 Economista, mestre em Sociologia e professor aposentado da FCAP/UFPE.
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