100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 145
todo movimento reivindicativo que surge nos campos tenderá a
assimilar técnicas revolucionárias, de tipo marxista-leninista.
Temos, assim, na corrente do processo revolucionário, um impor-
tante setor de vocação marxista-leninista que em determinadas
condições poderá liderá-lo. A consequência prática seria o predo-
mínio, na revolução brasileira, do setor de menor desenvolvimento
político-social. Os autênticos objetivos do nosso desenvolvimento,
anteriormente definidos em termos do humanismo, estariam
parcialmente frustrados de antemão”. (Furtado, 1962, p. 29). .
A outra possibilidade de ocorrer uma revolução marxista-leni-
nista seria um retrocesso na estrutura política no país: “A impo-
sição de uma ditadura de direita tornando rígida a estrutura polí-
tica, criaria as condições propícias para uma efetiva arregimentação
revolucionária de tipo marxista-leninista” (Furtado, 1962, p.
29). O ponto do autor passa a ser este: “Sem condições objetivas
determinadas por um retrocesso político-social no país, com a
destruição da capacidade de defesa do setor urbano, que já
desfruta de formas de convivência política superiores, a única
possibilidade decorre da persistência da estrutura agrária anacrô-
nica” (Furtado, 1962, p. 30). Ele observa que, devido à demora
das modificações nas “estruturas básicas”, ao crescimento contí-
nuo das ansiedades coletivas, tendo o desenvolvimento econômico
se tornado um “imperativo político”, já se vivia uma '“autêntica
fase pré-revolucionária”. A questão das técnicas de transformação
social havia passado “ao primeiro plano das preocupações políti-
cas”. (Furtado, 1962, p. 30).
A interdição do caminho democrático não seria um evento
naturalístico vindo de um céu azul: “Para evitar um retrocesso
social não basta desejá-lo: é necessário criar condições objetivas
de caráter preventivo. O retrocesso na organização político-social
não virá ao acaso, e sim como reflexo do pânico de certos grupos
privilegiados em face da pressão social crescente. Não permitindo
as rígidas estruturas adaptações gradativas, a maré montante
das pressões tenderá a criar situações pré-cataclísmicas”
(Furtado, 1962, p. 31). Na mesma passagem, o autor volta à
questão institucional: “Nessas situações é que os grupos domi-
nantes são tomados de pânico e se lançam às soluções de emer-
gência ou golpes preventivos. Fossem as modificações progressi-
vas ou gradativas, e o sistema político-social resistiria”. (Furtado,
1962, p. 31).
O reformismo de Celso Furtado e a Revolução de 1917
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