100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 144
Revolução de 1917 traz a questão da preservação das liberdades
democráticas como condição do êxito do desenvolvimentismo
proposto, diversamente das estratégias de ativação camponesa
dirigidas a constituir uma outra ordem social à semelhança da
Revolução Russa de 1917.
Para Furtado, a questão da institucionalidade adquire grande
realce no processo de mudança social. Aqui ela vai significar ao
mesmo tempo flexibilizar as “estruturas básicas” e abrir o sistema
político à integração dos desvalidos do mundo agrário na vida
nacional. Assim ele faz esta associação: “... a classe camponesa,
no Brasil, é muito mais suscetível de ser trabalhada por técnicas
revolucionárias do tipo marxista-leninista do que a classe operá-
ria, se bem que do ponto de vista marxista ortodoxo, esta última
deveria ser a vanguarda do movimento revolucionário. É que
nossa sociedade é aberta para a classe operária, mas não para o
camponês. Com efeito: permite o nosso sistema político que a
classe operária se organize para levar adiante, dentro do jogo
democrático, as suas reivindicações. A situação dos camponeses,
entretanto, é totalmente diversa. Não possuindo qualquer direito,
não podem eles ter reivindicações legais. Se se organizam, infere-
se que o fazem com fins subversivos. A conclusão necessária que
temos a tirar é a de que a sociedade brasileira é rígida em um
grande segmento: aquele formado pelo rural. E com respeito a
esse segmento é válida a tese de que as técnicas marxista-leninis-
tas são eficazes”. (Furtado, 1962, p. 28).
Essa situação envolve duas questões. A primeira é a da capa-
cidade do sistema político para absorver os conflitos, questão a
que busca atender o gradualismo da estratégia furtadiana: “Na
medida em que vivemos numa sociedade aberta, a consecução
dos supremos objetivos sociais tende a assumir a forma de apro-
ximações sucessivas. Na medida em que vivemos numa sociedade
rígida, esses objetivos sociais tenderão a ser alcançados por uma
ruptura cataclísmica” (Furtado, 1962, p. 28-29). A outra ques-
tão se refere propriamente às ações dos atores, particularmente
na urgência das soluções positivas para as reformas e, é preciso
relevar este ponto, na sustentação política ao governo da qual
depende o processo reformista.
Furtado observa que as mudanças sociais necessitavam que
os acontecimentos seguissem curso normal, mas prevê duas
situações em que se poderia chegar a um impasse: “Na medida em
que este (o setor agrícola – RS) se conserve com a rigidez atual,
142
Raimundo Santos