100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 143

nas partidárias de orientação marxista-leninista ficaram traumatizadas diante de uma realidade político-social em permanente mutação ” ( Furtado , 1962 , p . 25 ). A explicação dessa ineficácia do modelo da revolução russa de 1917 no Ocidente , registra ele , devia-se ao fato de que o Estado , nessas sociedades , não se reduz a órgão de dominação de classe , a mera “ força especial de repressão ”. Essa era a simplificação com que o marxismo-leninismo unificava a ação revolucionária dirigida à captura dos seus aparatos estatais ( Furtado , 1962 , p . 25 ). Daí extrai um ponto-chave para o argumento reformista : “ A partir do momento em que o Estado deixa de ser uma simples ditadura de classe para transformar-se num sistema compósito , representativo de várias classes , se bem que sob égide de uma , aquela técnica revolucionária perde eficácia . A necessidade de discriminar entre o que o Estado faz de bom e de ruim , do ponto de vista de uma classe , exige uma capacidade de adaptação que não pode ter um partido revolucionário monolítico ”. ( Furtado , 1962 , p . 25-26 ).
As críticas do autor ao socialismo e ao marxismo-leninismo procuram mostrar seu reformismo como uma estratégia apropriada a uma sociedade complexa : “ O problema fundamental que se apresenta é , portanto , desenvolver técnicas que permitam alcançar rápidas transformações com os padrões de convivência humana de uma sociedade aberta . Se não lograrmos esse objetivo , a alternativa não será o imobilismo , pois as pressões sociais abrirão caminho , escapando a toda possibilidade de previsão e controle ” ( Furtado , 1962 , p . 26 ). Segundo Furtado , elas apontam também para o outro lado da questão que são as consequências do fracasso de uma revolução democrática : " Ter logrado formas superiores de organização político-social representa uma conquista pelo menos tão definitiva quanto haver atingido altos níveis de desenvolvimento material . Deste ponto de vista , em uma sociedade aberta , onde foram alcançadas formas de convivência complexas , a revolução de tipo marxista-leninista representa óbvio retrocesso político . ( Furtado , 1962 , p . 27 ).
Tendo como pano de fundo essas reflexões , o autor associa as possibilidades do caminho reformista democrático no Brasil à questão camponesa . Para equacioná-la numa perspectiva construtiva , recorre à experiência das sociedades capitalistas na qual tiveram papel decisivo as classes , a luta de classes e o marco institucional e suas flexibilizações , favorecendo o desenvolvimento econômico . E das críticas ao socialismo oriundo da
O reformismo de Celso Furtado e a Revolução de 1917
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