100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 141

também a situação internacional então marcada pelo problema da preeminência russa ou americana. Diz o autor que, estando fora de alcance interferir nessa questão, a impotência pode signi- ficar maior margem de liberdade no que se refere à determinação dos nossos próprios objetivos. (Furtado, 1962a, p. 18). Tendo essa “tela de fundo de autodeterminação e consciência de responsabilidade”, Furtado anuncia os objetivos da sua convo- catória à ação política: “Creio que esses objetivos poderiam ser facilmente traduzidos, tomando por base a análise anterior, nas expressões: humanismo e otimismo com respeito à evolução mate- rial da sociedade. Em linguagem mais corrente: liberdade e desen- volvimento econômico”. (Furtado, 1962a, p. 19). O otimismo em relação à “vida material” tem valor estraté- gico na busca de uma nova sociedade: “O desenvolvimento econômico é, em sentido estrito, um meio. Contudo, constitui um fim em si mesmo”, frisa o autor, “um elemento irredutível da forma de pensar da nova geração, a confiança em que o alarga- mento das bases materiais da vida social e individual é condição essencial para a plenitude do desenvolvimento humano”. (Furtado, 1962a, p. 20). Furtado recusa a visão obscurantista quanto ao futuro, pondo-se em posição “antitética da lenda do bom selvagem”, não se deixando seduzir pelas miragens de “uma nova Idade Média”, nem se comovendo diante das inquietações daqueles “que veem no progresso técnico as sementes da destruição do ‘homem essen- cial’” (Furtado, 1962a, p. 20). Ao contrário, viria trazer a ques- tão ocidental da “falsa d