100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 140

caráter histórico da realidade social, indicando ser possível iden- tificar-se “os fatores estratégicos que atuam no processo social”, e abre a porta à “política consciente de reconstrução social” (Furtado, 1962a, p. 17). Vê, neste ponto, sua “atitude positiva e otimista, com respeito à ação política, e bem corresponde aos anseios da juventude” (Furtado, 1962a, p. 17). Assim resume suas observações sobre o marxismo: “...aí encontramos, por um lado, o desejo de liberar o homem de todas as peias que o escravi- zam socialmente, permitindo que ele se afirme na plenitude de suas potencialidades, e, por outro, descobrimos uma atitude otimista com respeito à autodeterminação consciente das comu- nidades humanas. Trata-se, em última instância, de um estádio superior do humanismo; pois, colocando o homem no centro das preocupações, reconhece, contudo, que a plenitude do desenvolvi- mento do indivíduo somente pode ser alcançada mediante a orien- tação racional das relações sociais” (Furtado, 1962a, p. 17). O autor divisa na filosofia social de Marx os “anseios profundos do homem moderno”, cujas raízes mais vigorosas, diz ele ampliando o ponto, “vêm do humanismo renascentista que reco- locou na pessoa humana o foco do seu destino, e seu otimismo congênito emana da Revolução Industrial que deu ao homem controle do mundo externo”. (Furtado, 1962a, p. 17-18). No seu diálogo com a juventude da época, Furtado define os objetivos fundamentais da estratégia proposta, relegando a segundo plano aquilo que chama de “simplesmente operacional”. Um exemplo é a propriedade privada dos meios de produção, a empresa privada, à qual, diz ele, não se pode atribuir mais que um caráter operacional (Furtado, 1962a, p. 18). Ela é simples forma descentralizada de organizar a produção que deve estar subordinada a critérios sociais. E sempre que exista conflito entre os objetivos sociais da produção e sua forma de organização em empresa privada, medidas para assegurar o interesse social deve- riam ser tomadas (Furtado, 1962a, p. 18). Menciona ainda o fato de que, “à medida que, em fases avançadas de desenvolvi- mento”, vai-se alcançando maior abundância na oferta de bens, menos importância vão tendo as formas de organização da produ- ção, passando a ser mais relevante o controle dos centros do poder político, de onde saem normas de distribuição e de utilização da renda social sob as formas de consumo público ou privado (Furtado, 1962a, p. 18). O seu ponto é a definição dos objetivos irredutíveis “ligados à nossa própria concepção de vida”, evitando- se confundir meios e fins (Furtado, 1962a, p. 18). Ele cita 138 Raimundo Santos