100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 137
Esta foi a tradição que a III Internacional, criada em 1919,
adotou e tentou generalizar para todos os países. Com isso,
gerou nos partidos a ela ligados uma visão instrumental da luta
pela democracia, com sérios prejuízos à sua atuação política.
Quanto à Rússia, tornou-se, como União Soviética, uma super-
potência mundial, mas a um custo humano altamente proibi-
tivo. Tanto que, este ano, a comemoração da revolução foi banida
do calendário oficial do governo russo. “Seria para celebrar o
quê?”, perguntou Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Na
Rússia atual, a celebração mais importante passou a ser o dia 9
de maio – data da vitória final da URSS sobre a Alemanha
nazista, evento patriótico que une todo o país.
O trágico destino da União Soviética e a desilusão com o golpe
que a engendrou talvez abram espaço, no futuro, para que os ecos
distantes da Revolução de Fevereiro sejam ouvidos pelos historia-
dores. E talvez seja então possível que aquela fantástica experiên-
cia da queda do czarismo e do surgimento, pela primeira vez na
história da Rússia, de um espaço público onde uma apaixonada
pluralidade de ideias políticas se manifestava, ganhe o lugar que
merece nas páginas da história.
Referências
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Letras, 2016 [1963].
BLACKBURN, R. (Org.) Depois da queda. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1992.
GURKO, V. I. Figures and Features of the Past. Stanford University,
Stanford, CA, 1939.
LENIN, V. I. Obras escolhidas, em três tomos. São Paulo: Alfa-
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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Obras escolhidas em três tomos.
Lisboa: Avante, 1985.
PIPES, Richard. The Russian Revolution. New York: Random House,
1991.
A Revolução Russa de 1917: fevereiro ou outubro?
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