100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 129
ção foram menos acentuados, continuava sendo importante
fonte de riqueza para o país.
Contudo, o desenvolvimento do país, a expansão de sua
infraestrutura econômica e os esforços para projetá-lo mundial-
mente nunca foram acompanhados de reformas significativas nas
instituições políticas nacionais. A Rússia czarista iria permane-
cer, até 1917, uma autocracia patrimonialista, sem liberdades
civis e políticas, e sem instituições representativas relevantes. Ela
não possuía nem mesmo um gabinete ministerial com prerrogati-
vas específicas, ou uma burocracia governamental formada com
base no conceito de meritocracia, realidade existente há muito
tempo no Ocidente. Os funcionários do governo prestavam jura-
mento ao czar, não ao Estado. Todo o poder, enfim, estava concen-
trado em torno da figura do imperador.
Para manter este poder, o czar contava com a burocracia
governamental, a polícia secreta, o exército, a decadente nobreza
russa e a Igreja Ortodoxa, esta última servindo de esteio ideoló-
gico para a legitimação do poder absoluto czarista, principal-
mente junto ao campesinato russo, que constituía a grande maio-
ria da população do país (cerca de 85%, no início do século 20).
Obedecendo a seus próprios costumes e tradições, fechado em si
mesmo, com forte ethos patriarcalista, o campesinato russo era a
classe social mais avessa a qualquer tipo de modernização.
A ausência de reformas e a instabilidade política
É certo que, ao longo do século 19 e início do século 20, as
autoridades governamentais russas tentaram realizar algumas
reformas. Geralmente, eram reformas tímidas, conduzidas a
contragosto pelos czares, e resultantes de fracassos militares da
Rússia em suas estratégias geopolíticas. Este foi o caso, por exem-
plo, da abolição da servidão em 1861, decretada pelo czar Alexan-
dre I, em seguida à derrota da Rússia pelas forças franco-britâni-
cas na guerra da Crimeia (1853-1856).
Da mesma forma, a derrota da Rússia na guerra contra o
Japão em 1904-1905 desencadeou uma crise que levou a uma
greve geral e à primeira Revolução Russa, em 1905, reprimida
com alguma dificuldade pelo exército e a polícia.
Nicolau II, o último czar da Rússia, foi convencido por membros
mais liberais de seu governo a realizar reformas que pudessem
A Revolução Russa de 1917: fevereiro ou outubro?
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