100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 127
A Revolução Russa de 1917:
fevereiro ou outubro?
Paulo César Nascimento 1
D
urante a visita do presidente norte-americano Richard
Nixon à China, em 1972, o primeiro-ministro chinês
Zhou en Lai, perguntado sobre o impacto da Revolução
Francesa, respondeu que era ainda muito cedo para avaliar. Se
isso é verdade sobre um evento ocorrido há mais de três séculos,
o que dizer de uma revolução como a russa, que completa este
ano “apenas” cem anos?
Ainda assim, a efeméride da revolução russa e da sociedade
que dela nasceu não pode esperar o amadurecimento da História;
sua importância exige uma avaliação, mesmo que parcial, daquele
evento que o historiador inglês Eric Hobsbawm elegeu como o
“início do século 20” e cujo colapso, em 1991, marcou, segundo
ele, o final do século passado.
Para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se inspira-
ram na Revolução de 1917 – partidos políticos, movimentos,
pensadores, ativistas etc. –, a reflexão sobre o legado daquele
evento é especialmente espinhosa. A inspiração que a revolução
gerou para a luta contra as desigualdades econômicas, sociais e
políticas do capitalismo, a esperança em uma sociedade socia-
lista, a vitória da União Soviética contra o nazismo, os notáveis
êxitos do país no campo das ciências e o apoio aos movimentos
contra o colonialismo são conquistas que foram, por sua vez,
contrabalançadas pelo evidente autoritarismo do regime comu-
1 Professor de Ciência Política da Universidade de Brasília-UnB.
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