As massas populares seguiram nosso estandarte e nossa
insurreição é vitoriosa. E agora nos dizem: Renunciem à vitó-
ria, façam concessões, cedam. A quem? Eu pergunto: a estes
grupos deploráveis que nos abandonaram ou a quem apresenta
tal proposta? [...] Ninguém na Rússia continua ao lado deles.
Um acordo só pode ser firmado entre partes iguais [...]. Mas
aqui não há acordo possível. Àqueles que nos deixaram e àque-
les que nos aconselham a transigir, respondemos: Vocês são
corruptos miseráveis, sua função acabou; vão para onde devem
ir – para a lata de lixo da história.
Martov, então, se concentrou nas eleições para a Assembleia
Constituinte, realizadas no final daquele mês. Porém, os menche-
viques obtiveram uma votação de apenas 3%. Contrariando a
arrogância e o sectarismo de Trotski, os vencedores foram os
socialistas revolucionários, com 40% dos votos, ao suplantarem
os 24% dados aos bolcheviques. 4 Os liberais do Partido Constitu-
cional Democrata obtiveram 5% dos votos. Em minoria e com
ajuda de soldados que participaram da insurreição, os bolchevi-
ques fecharam a Constituinte.
Iniciada a guerra civil, Martov apoiou o Exército Vermelho
contra a intervenção estrangeira e o Exército Branco, comandado
por generais monarquistas. Apesar do apoio ao governo soviético
no combate à contrarrevolução, o líder menchevique foi um crítico
contundente da repressão generalizada, opondo-se ao fechamento
de jornais liberais e às perseguições aos partidos que faziam
oposição pacífica. As posições de Martov indicavam a possibili-
dade de uma alternativa democrática e socialista tanto ao último
governo provisório – liderado pelo trudovique Alexander Kerensky
–, quanto à ditadura comunista que se seguiu. 5 A bibliografia
sobre Martov em português é quase inexistente. Após o fim da
União Soviética, em 1991, foram publicados vários livros revalori-
zando o papel de Martov na Revolução Russa. Porém, a obra
fundamental sobre ele foi publicada ainda em 1967, pela Editora
da Universidade de Cambridge, do Reino Unido, em coedição com
a Universidade de Melbourne, da Austrália. Intitulada Martov – A
Political Biography of a Russian Social Democrat, é de autoria de
Partido Socialista Revolucionário – banido durante a guerra civil. A ala direita foi
acusada de apoiar o Exército Branco. A ala esquerda, inicialmente participou do
governo soviético, porém foi excluída ao se opor ao Tratado de Brest-Litovsky, de
paz com a Alemanha.
5 Trudovique — membro do Partido Trabalhista, dissidência do Partido Socialista
Revolucionário, surgido em 1905 e desintegrado após a Revolução de Novembro.
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Claudio de Oliveira