100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 110

acontecimentos de outubro de 1917: um golpe, uma aventura, que, como no pecado original, guardava em si os embriões do stali- nismo. Mas, “quaisquer que sejam as palavras para expressá-lo, o comunismo é irredutível às suas falsificações burocráticas”. 2 Sobre a atualidade das questões que se colocaram há cem anos para os bolcheviques destaco as discussões sobre o caráter da revolução – reforçar um governo liberal burguês (um avanço diante do tzarismo) ou avançar para o socialismo? Uma revolu- ção por etapas ou uma revolução permanente? Nacional “demo- crática” (democrática ainda mantendo o capitalismo...) ou socia- lista? Para avançar na resposta a estas questões é preciso avaliar: qual a força ou quais as forças fundamentais da revolu- ção? Qual o instrumento para organizá-las? Qual a política de alianças a ser procurada? Tais questões foram sendo respondidas por Lenin – Vladimir Ilitch Ulianov (1870-1924), no decorrer dos acontecimentos revo- lucionários, levando em conta a situação concreta em que os fatos se desenrolaram. Para entender a revolução é preciso considerar seus antecedentes. Vejamos. Os Romanov A dinastia dos Romanov durava há três séculos, fundada que fora em 1613. Deles, interessa-nos aqui o último tzar, Nicolau II, Nicolau Alecssandrovitch Romanov (1868-1918) e sua maneira de encarar o poder e administrar o império. Papel importante nos acontecimentos do final da dinastia teve a tzarina, Alecssandra, neta da rainha Vitória (1819-1901). Seu nome de batismo era Alicy Victória de Hesse e ao adotar a religião ortodoxa para casar-se com o tzar recebeu, como era de praxe, o nome de Alecssandra Feodoróvna (1872-1918). Consta que um dia a rainha Vitória lhe disse que governar era difícil e seria preciso cultivar e fortalecer o amor dos súditos, ao que Alecssandra teria respondido: A senhora está equivocada, querida avó. A Rússia não é a Ingla- terra. Aqui não precisamos ganhar o amor do povo. O povo russo reverencia seus tzares como se fossem divinos. [...] No que diz respeito à sociedade de Petersburgo isso se pode esque- cer totalmente. 3 BEMSAÏD, Daniel. Os irredutíveis: teoremas da resistência para o tempo pre- sente. Trad. de Wanda Caldeira Brant. São Paulo: Boitempo, 2008, p. 71. 3 MONTEFIORI, Simon Sebag. Os Románov – 1613-1918. Trad. de Claudio Carina, 2 108 Marly de A. G. Vianna