100 anos da Revolução Russa PD_ESPECIAL | Page 100
A linha de montagem criada por Henry Ford já não dava
conta do recado. Mas fora a fonte de inspiração de Lenin para
conceber todo o arcabouço do chamado “socialismo real”, do
modelo de partido único, da estrutura do Estado soviético e dos
sindicatos como correias de transmissão do partido. O socia-
lismo tornara-se anacrônico.
Ao mesmo tempo, havia uma batalha ideológica entre o
chamado “americanismo” do Ocidente e a “proletarização” do
Leste Europeu. Essa batalha ganhou uma nova dimensão quando
o cardeal polonês Carol Wojtyla foi eleito papa. Como João Paulo
II, ele desempenharia um papel importante na desestabilização
dos regimes socialistas do Leste Europeu, a começar pela Polônia.
Um pouco da crise da URSS se deve também a isso, por causa da
independência da Estônia, Letônia e Lituânia, republicas de
maioria católica da URSS que haviam sido anexadas por Stálin.
Em agosto de 1980, no estaleiro Lenin, na cidade de Gdansk, o
eletricista Lech Walesa anunciou a criação do Solidariedade – o
primeiro sindicato independente de um país comunista. O dogma
de que a vanguarda da classe operária eram os comunistas veio
abaixo no Leste Europeu. O partido deixara de ser “a consciência
do proletariado”, se tornara uma espécie de nova classe dominante,
uma burocracia autoritária e corrompida, encastelada no poder.
Num dos intervalos do encontro promovido pelo Pravda, fui
procurado por um dos diretores da agência de notícias Tass, uma
das maiores do mundo. Ele era casado com a filha do ministro da
Pesca e queria um contato com um grande estaleiro do Brasil
para iniciar um grande negócio: criar uma joint-venture para
prestar serviços à frota de pesqueiros russa do Atlântico Sul, que
passariam a ser reabastecidos e sofreriam reparos em Niterói. Ou
seja, a plutocracia que enriqueceria com as privatizações de Yelt-
sin já estava em posição de combate.
O presidente americano na época, Ronald Reagan, e a primeira-
ministra britânica, Margareth Thatcher, diante da crise, perce-
beram a oportunidade de uma grande ofensiva neoliberal. O
comunismo já era um animal ferido de morte. Encararam como
missão resgatar a reputação do capitalismo no Ocidente e afas-
tar de vez o fantasma comunista que rondava o mundo desde o
Manifesto de Marx e Engels, de 1848. Gorbachëv, que chegou ao
poder em 1985, era uma resposta a essa ofensiva, mas já era
tarde demais. A reestruturação econômica (perestroika) e a
transparência política (glasnost) não teriam o mesmo sucesso
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Luiz Carlos Azedo